segunda-feira, 26 de maio de 2008

Em primeiro lugar é importante salientar o porquê do nome Arquitetura Urbana. Este nome explicita a minha vontade de desenvolver reflexões tanto sobre a cidade (e formas de urbanização), quanto sobre como a arquitetura pode influenciar para a obtenção de uma melhor paisagem urbana e convívio social, com economia de energia, utilização de materiais adequados, observação da vizinhança próxima, valorização da história do local e etc.
É importante observar que a Região Metropolitana de São Paulo cresceu desenfreadamente e de modo caótico, ocupando as áreas verdes e causando impactos de cunho ambiental, econômico e social.
Desta forma, pensar sobre as cidades e o que queremos para seus futuros torna-se um ponto fundamental a ser discutido dentro das universidades e pela população em geral: “O que queremos para nossas cidades?”, “Como obteremos água e energia?”, “O que fazer com o lixo urbano e os resíduos gerados pelo ser humano?”, “Como queremos viver?”, “Como planejaremos novas cidades?”, “Como deve ser a ocupação humana na superfície da Terra?”, “Como lidar com as densidades, usos, acessos?”.

“Dados sobre o crescimento urbano mundial revelam que mais de 50% da população mundial vive em cidades e que até 2050 serão mais de 75%. Assim, é importante entender os impactos desse crescimento sobre a qualidade de vida dos cidadãos e o meio ambiente. Certamente, as organizações sócio-econômicas, os espaços públicos e os edifícios determinam – e determinarão ainda mais – como as cidades vão responder a desafios como mudanças climáticas e luta pelos direitos humanos.
Para contribuir na formação de consciência coletiva sobre os problemas sócio-econômicos e ambientais pelos quais passam as grandes cidades, a exposição Global Cities – realizada na Tate Modern, em Londres, de 20 de junho a 27 de agosto de 2007 – trás um olhar crítico a respeito das condições sociais e espaciais destas cidades, levantando questões sobre os efeitos da arquitetura, do projeto urbano e do urbanismo. Dez cidades foram eleitas para a exposição: Cairo, Istambul, Joanesburgo, Londres, Los Angeles, Cidade do México, Bombain, São Paulo, Xangai e Tóquio. São Paulo foi apresentada como a maior e mais rica cidade brasileira, com uma região metropolitana equivalente à Los Angeles e Xangai, e uma população que praticamente dobrou nos últimos 45 anos.
A discussão sobre densidade é de grande importância para o futuro das cidades, sendo uma ferramenta de planejamento, que, dentre outras funções, garante que áreas urbanas bem servidas de infra-estrutura sejam bem aproveitadas pelas organizações sociais e pelo poder público. No conteúdo da exposição é enfatizado que altas densidades não significam obrigatoriamente edifícios altos, sendo muitas as possibilidades do desenho urbano e das tipologias arquitetônicas (GONÇALVES, 2007).

Logo, esse trabalho procurará, através de uma intervenção na cidade de São Paulo, discutir as seguintes questões abordadas ultimamente e enfatizadas nesta exposição: “A forma urbana de nossas cidades afeta o futuro do planeta e a sua sustentabilidade? Como as cidades poderão acomodar bilhões de pessoas com qualidade e dignidade? É possível que a qualidade de vida nas cidades seja melhorada e os seus impactos ambientais reduzidos por meio de estratégias de projeto, envolvendo aspectos de arquitetura, projeto urbano e planejamento?”

Além disso, nestes últimos anos, pode-se observar um grande boom imobiliário, onde milhares de torres foram erguidas pela cidade de forma não planejada e com a finalidade única de gerar lucros a uma pequena parte da população. Os governos municipais estão assistindo, nas últimas duas décadas, à instalação de empreendimentos que, pelo seu porte, influenciam fortemente a orientação do crescimento urbano gerando muita demanda de novos investimentos em infra-estrutura no entorno, quando não decorrentes diretamente da nova construção. São mega-intervenções que terminam por dirigir a ação do poder público mesmo quando este se esforça para não se subordinar aos interesses das corporações empreendedoras dessas grandes obras (FERREIRA, 2002).
Este trabalho consiste em desenvolver um projeto urbano para o bairro da Barra Funda, levantando as questões sociais, ambientais e econômicas da área e usando-a como plano de fundo para questionamentos sobre o crescimento das Cidades e o impacto da arquitetura e o planejamento urbano na convivência social e no conforto ambiental.

Para tanto, trabalharei com diversas escalas, estabelecendo relações entre os espaços dos diversos edifícios (existentes e projetados), utilizando princípios de sustentabilidade e reabilitação tecnológica e espacial, fazendo, enfim, um ensaio de como a cidade de São Paulo, ou parte dela, poderia ser repensada.

O trabalho procurará, assim, discutir sobre os problemas citadinos através de embasamento teórico e desenvolvimento de um projeto, ou seja, será realizado um estudo através do desenho, enfatizando questões como: adensamento populacional, sistema de espaços públicos, locação de usos, acessos a quadras e edifícios, infra-estrutura urbana (estacionamentos, sistemas de transporte, coleta e reuso de água), o papel da arquitetura como instrumento do desenho urbano, relação público x privado e etc.

Trata-se, portanto de um projeto que visa estabelecer os parâmetros preliminares – quantitativos e qualitativos – para a implantação de novas quadras e edificações, enfatizando também a articulação dos sistemas de espaços livres de uso público e os sistemas de circulação de pedestres e veículos.

O objetivo primordial deste trabalho é mostrar como parte da cidade poderia ser mais sustentável e conseqüentemente de menor impacto e melhor qualidade, levando em conta um desenho urbano adequado e uma arquitetura que valorize aspectos ambientais, tecnológicos e sociais.

No entanto, a finalidade deste trabalho não é somente criar um projeto em uma área específica da cidade, mas, através deste projeto, discutir questões gerais sobre urbanidade, sustentabilidade, acessibilidade, verticalidade, hibridade e diversidade.